sábado, outubro 13, 2007

Tropa de Elite é mesmo osso duro de roer

Ao falar sobre Tropa de Elite, não posso deixar de reparar no enorme sucesso do filme. A cinematografia brasileira não está acostumada a grandes bilheterias. Mas esse filme superou ter sido pirateado um mês antes do lançamento (especula-se que foram compradas mais de 1 milhão de cópias pelos camelôs do país). Superou pois ontem, na data de sua estréia, o cinema estava lotado. E filme brasileiro não tem estréia lotada.

Talvez isso tenha ocorrido pela polêmica gerada pelo filme (acusações de delegados, reproduções domésticas de torturas etc), talvez pelo elenco maravilhoso (a presença de Wagner Moura é garantia de boa bilheteria – não de bom filme). O que importa é que muita gente vai assistir à Tropa de Elite, e eu espero que faça a reflexão que o filme propõe e não passe a achar que o BOPE (Batalhão de Operações Especiais) é a solução do Brasil, como muita gente tem colocado.

Outra tanto de gente – a crítica especializada – tem dito por aí que o filme é reacionário. Eu arrisquei assistir a ele com um viés de tentar entender essa opinião. Tropa de Elite mostra uma polícia corrupta, um BOPE torturador e honesto, traficantes sem alma, universitários alienados, usuários de droga e defensores do crime organizado. O diretor mostra sua visão do mundo do crime de forma muito clara e forte: a culpa do tráfico é do usuário de drogas. Se isso é reacionário ou não, fica a você decidir. Essa discussão está presente numa das melhores cenas do filme, quando o Capitão Nascimento diz para um estudante universitário que quem matou um rapaz que o BOPE executou em uma de suas ações foi o próprio estudante que compra droga daquela favela.

Eu li que alguém disse que esse filme vai virar ideário do movimento Cansei. Eu acho o contrário. Isso por que outra cena que achei forte foi uma discussão dentro da universidade entre alunos e um policial, também aluno. Enquanto os moços e moças reclamavam de como a polícia matava inocentes e maltratava a elite, o policial questiona que fumando seus béquis eles estão incentivando tudo isso de que reclamam. A classe (média) fica em silêncio. O filme acontece em 1997, e eu acho que o movimento Cansei deve estar cheio de alunos daquela classe de dez anos atrás.

O roteiro do filme fica quase que apagado diante de sua temática, o que ainda é um problema nos filmes brasileiros a que assisto. A história é o pano de fundo e não o tema. Mas não posso deixar de comentá-la. Capitão Nascimento (Wagner Moura) é o comandante de um batalhão do BOPE a quem é dada a missão de acalmar o morro do Turano para a visita do Papa João Paulo II que se hospedará nas redondezas. A mulher de Nascimento espera um filho e, por isso, o policial começa a sofrer ataques de pânico. Assim, ele inicia a busca por um substituto a sua altura, em meio a policiais corruptos, loucos ou até mesmo covardes. Isso leva a um bom momento “cinema” do filme que é o treinamento dos policiais. Digno até de comparação com a seqüência Drill Instructor de Full Metal Jacket do Kubrick.

Outro ponto que não posso deixar de comentar no roteiro do filme é a presença da tortura no sistema de operações do BOPE. Em apenas um momento é feita uma ressalva quanto à prática. Acho que o diretor usou muito a colaboração de policiais ao produzir o filme e não quis machucar os egos. Enfim, deixou a desejar, pois mostrá-la como um mero modus operandi ficou estranho, até por que o BOPE é mostrado como a honestidade em forma de batalhão policial.

E eu já ia me esquecendo. Além de discutir todos esses temas sérios, Tropa de Elite é bem filmado, tem uma fotografia original, trilha sonora legal e é muito engraçado.

É por essas razões que acho que não dá pra deixar de assistir a Tropa de Elite. Como diz a música, Tropa de Elite pega um, pega geral, também vai pegar você. E não esqueçam que missão dada é missão cumprida.

Ah! E não deixem de dar uma olhada no blog do Capitão Nascimento. Hilário.

Um comentário:

Yuri A. disse...

Boa sua resenha sobre o filme Manu. O Wagner moura "até que atua bem" como diria o Diogo Mainardi. Mas tenho que discordar em um ponto: a forma como a polícia foi mostrada não deixou nada a desejar. O BOPE é sim, a honestidade em forma de batalhão porque o orgulho de ser da coorporação é a única forma de refrear o processo do corrompimento dos policiais. Hoje em dia, fazer concurso público pra polícia militar é uma grande oportunidade de triplicar o salário descrito na folha de pagamento, e o salário do BOPE é só 400 reais a mais do que o da PM convencional. A corrupção do BOPE é mais difícil porque as campanas não são independentes, eles têm missões a cumprir que não passam pela aprovação do general da PM, sendo que eles têm total autonomia sobre as operações e precisam prestar conta das missões ao secretário de segurança todo mês. Claro que alguns eventualmente se corrompem, mas são punidos drasticamente. Claro, pra que passar por tudo aquilo pra ganhar 400 reais a mais e correr o risco de ser chutado pra fora de novo por corrupção? O ruim é que tem muito mané que agora quer ser do BOPE (e é maconheiro). Aqui em Resende tem um banner no site do cinema que diz "missão dada é missão cumprida" e acho que a milicada da AMAN deve tá tendo orgasmos múltiplos com isso.
Beijo