segunda-feira, abril 28, 2008

Humor: Filosofia da Linguagem ou Divagações de Segunda à Noite

Bertrand Russel, em seu livro A Introdução à Filosofia Matemática, capítulo 16, Descrições

"Chegamos agora ao principal tema do presente capítulo, a saber, a definição da palavra o. Um ponto muito importante sobre a definição de "uma tal coisa" (a so-and-so) aplica-se igualmente a "a tal coisa" (the so-and-so); a definição a ser procurada é uma definição de proposições em que essa expressão ocorre, não uma definição da expressão em si mesma, isoladamente. No caso de "uma tal coisa", isso é bastante óbvio: ninguém poderia supor que "um homem" fosse um objeto definido, que poderia ser definido por si mesmo. Sócrates é um homem, Platão é um homem, Aristóteles é um homem, mas não podemos inferir que "um homem" significa o mesmo que "Sócrates" significa, e também o mesmo que "Platão" significa e também o que "Aristóteles" significa, pois esses três nomes têm diferentes significados. No entando, quando tivermos enumerado todos os homens no mundo, não terá sobrado nada de que possamos dizer: "Esse é um homem, e não só isso, mas é O "um homem", a entidade quintessencial que é apenas um homem indefinido ser ser ninguém em particular." Fica, portanto, bastante claro que tudo que há no mundo é definido: se há um homem é um homem definido e não qualquer outro. Logo, não é possível econtrar no mundo uma entidade como "um homem" em contraposição a homens específicos. E assim é natural que não definamos a expressão "um homem" em si mesma, mas somente as proposições em que ela ocorre (...)."

sábado, abril 26, 2008

Deseo do Jorge Drexler


Yo soy, tan sólo
uno de los dos polos;
de esta historia, la mitad.

Apenas medio elenco estable;
una de las dos variables
en esta polaridad:

más y menos,
y en el otro extremo
de esa línea, estás tú,

mi tormento,
mi fabuloso complemento,
mi fuente de salud.

Deseo
mire donde mire, te veo
mire donde mire, te veo
mire donde mire, te veo….

(...)

quarta-feira, abril 23, 2008

Ficção Azul


O caminhar era um fluxo descontínuo de movimentos. Os cabelos para um lado, as mãos para o outro, quadris para um lado, mas o olho diretamente para o chão. E vice-versa. Mas o olho para o chão, sempre para o chão. Um olhar triste melancólico. Le ciel ètait bleu. E aquela moça dourada caminhava olhando para o chão. Um mosaico intricado de pretos e brancos, pequenas pedrinhas que quando chove fazem escorregar, alternando cores, desenhos. Chama petit pavé, lhe disseram um dia. Ela não ligou muito por que, naquele dia, o céu estava azul e você sabe como algumas moças sem importam por demais com a cor do céu, a forma das nuvens e o jeito das estrelas. Ela mesma fica mais triste do que hoje quando o céu está branco como papel: aquele chiaro scuro, ausência de sombras, tristesse. As cores não são verdadeiras cores, o mundo tem um tom sarcástico de falsidade. Em dias como hoje com céu azul, daquele azul que faz os prédios parecerem colagem de criança em cartolina, destacados, marcados... Em dias como hoje (e, faça-se justiça, na maioria dos dias) ela normalmente reflete os raios do sol. Mas hoje, sem nenhum motivo aparente, a moça sonhou com algum mal, acordou com o sol, mas não abriu direito os olhos. Acostumada com o sorriso fácil no rosto, hoje a moça se fechou e até chorou com a TV, como a mais boba das moças. “Coisas de moça”, dizem por aí, de “pisciana instável” dizem outros. Vai saber! Quando, à noite, colocou a cabeça no travesseiro, pensou séria, a testa franzida, “amanhã o céu estará novamente azul de brigadeiro (brigadeiros não são azuis...) e esses olhos que miram as pedras do chão voltarão a sorrir”. Dormiu.

terça-feira, abril 22, 2008

I'm a blank (but happy) canvas


Bastam duas linhas. Eu ficaria satisfeita com duas linhas de algum bom pensamento, uma sacada. Mas aqui já se vão duas delas sem nenhuma relevância ou interesse. Três delas se formam e eu ainda não lhe disse nada do que eu quero falar ou do que você quer ouvir. Termino essa quinta linha pensando que a inspiração podia chegar lá pela décima que, com isso, eu talvez arrastasse uma ou duas pessoas até lá, em um quadro otimista. Mas hoje ela está longe, se perdeu na minha embriaguez, no bom jazz ou nessa luz da tela em branco, agora cheia de vazio. Um vazio que ocupou nove linhas. Quanto desperdício! E acaba na décima, por favor.

quarta-feira, abril 02, 2008

Diane Arbus por Sontag


"A autoridade das fotografias de Arbus origina-se do contraste existente entre o tema dilacerante que focalizam e a atenção objetiva e serena que revelam. Tal capacidade de prestar atenção - a atenção que presta o fotógrafo é a que a pessoa que posa presta no momento de posar - cria a teatralidade moral dos retratos objetivos e contemplativos de Arbus. Em vez de espionar as pessoas estranhas e os párias, e fotografá-los sem que percebessem, Arbus achegava-se a eles, ganhava-lhes a confiança e assim lograva que posassem para ela com a mesma paciência e imobilidade com que um graúdo vitoriano se deixava retratar no estúdio de Julia Margaret Cameron. Grande parte do mistério das fotografias de Arbus reside no que elas podem sugerir-nos acerca da reação dos seus personagens, depois que esses consentiram em deixar-se fotografar. Será que se vêem assim? - pergunta-se o leitor. Será que imagino o quanto são grotescos? Aparentemente não.
O tema das fotografias de Arbus é, tomando emprestada a classificação de Hegel, a "consciência infeliz". A maioria dos personagens do Grand Guignol de Arbus entretanto parece não se dar conta da sua feiúra. Arbus capta as pessoas nos graus diversos da sua relação inconsciente e desprevenida com o sofrimento e a feiúra. Isso necessariamente limita qualquer tipo de horror que ela possa ter sido levada a fotografar: pois aquela relação exclui os sofredores que presumivelmente têm consciência de seu sofrimento, tais como as vítimas de acidentes, das guerras, da fome e das perseguiçoes políticas. Arbus jamais fotografaria um acidente ou um acontecimento que violentasse a vida; preferiu especializar-se nos fracassos pessoais , captados em câmara lenta, os quais, em sua maioria, já se vinham manifestando em seus personagens desde que nasceram"


Susan Sontag, em Sobre a Fotografia, 2a edição da Arbor, p. 35 - Queria tanto esse livro no idioma original.

Sei que a foto não tem a ver com o texto, mas eu acho ela muito muito forte.

Tenho um facínio pela obra dessa mulher de biografia tão intrigante. Assisti recentemente ao filme A Pele, inspirado na vida de Diane Arbus (se pronuncia /Díene, sabia?) e achei uma grande maluquice. A produção é legal, os atores são bons, gosto muito da Nicole Kidman quando faz papéis de mulheres misteriosas e silenciosas. E a película é bem bonita, e recria, em parte, o universo fantástico da fotógrafa. É legal ter a experiência visual do sentimento de libertação que Arbus tem quando começar seu trabalho de fotografia. Além disso, é muito interessante analisar a estranheza que ela possuia em relação ao mundo à sua volta (assim como seus retratados). Mas acho que o roteiro do filme peca quando leva para um lado deveras fantasioso e impossível. Um mundo fantástico demais, sem muito sentido e meio agoniante. Preferia que se tivesse mantindo centra fidelidade à obra de Arbus. Mas, não deixa de ser uma sessão interessante para quem, como eu, se interessa por fotografia.

terça-feira, abril 01, 2008

Como pode a vida deixar de ser drama e virar comédia romântica?

Uma questão; um pensamento. Inocentes. Mas a vida passa nos olhos feito filme. "Você acha que tem algum talento específico?". Não. Competência sim, talento não. Seria isso triste, incômodo, deprimente, perturbador? Não. Uma resposta entre duas, simples assim. 50% de sucesso. Probabilidades são sempre cruéis, nos mostram as chances de erro (o acerto é sempre incerto e quase impossível para nossas mentes pessimistas). Isso me parece ser apenas normal. Se vou descobrir minha verve, se vou deixar passar, se vou ter sucesso, fracassar, isso é outro filme. A seqüência, o volume 2. E eu espero que ele não siga a regra das seqüências e seja pior que o primeiro, como quase sempre acontece (a vida é cheia de quases, não?). Puxa, o meu filme pode virar filme de arte (essa sim, minha opção favorita: aqueles cenários, aqueles diálogos, quanta emoção), aventura, terror, policial, comédia pastelão, documentário, western, clássico, musical, italiano etc. Mas acho que o que queria mesmo que minha vida continuasse assim, comédia romântica. É pedir demais?

- o texto e a foto é para quem não sabe quem é o Mastroianni. Por que a Sophia Loren, é óbvio que você sabe.