quinta-feira, junho 05, 2008

Minhas Mitologias

Um dia minha avó decidiu me ensinar a gritar. Não que eu fosse criança quieta, tagarela eu sempre fui. E também não deixava de ser manhosa. Só não sabia gritar. Grito daquele ancestral, daquele primal, que vem do âmago, que alivia a pressão do mundo. Ela tentou, tentou, com lições teóricas, práticas, demonstrações. Não adiantou. Até hoje eu não sei gritar de verdade. Mas às vezes me dá aquela vontade de dar um grito aos quatro cantos, de reverberar o pulmão pelo mundo, de me fazer entender, de deixar claro o que quero, o que não quero, pra que vim ao mundo. Daí eu escrevo. A palavra é meu grito.

*

E agora eu quero gritar por muitas coisas. Eu quero gritar por aquilo que acho que mereço, que preciso, que quero. Três daqueles verbos que não uso com a freqüência que deveria. Apenas por precaução. Mas qual é o sentido de todo esse cuidado? Por quê?

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