quinta-feira, junho 26, 2008

Au Revoir Simone e Ricardo Reis


Hurricanes, Au Revoir Simone

In a world of make-believe
Talks a lot, but can't you see
It means more to you than me

Think before you speculate
Take the fear that you create
Don't assume we're so afraid of them

And you say na na na...

If you stop and disappear
Doesn't sound I watch you here
When dreaming takes you where you want to be
Don't follow the status quo
Picture where you'd like to go
Take your time but always know you're there

This message is for all the people
That people who are always waiting

*

Nos altos ramos de árvores frondosas
O vento faz um rumor frio e alto,
Nesta floresta, em este som me perco
E sozinho medito.

Assim no mundo, acima do que sinto,
Um vento faz a vida, e a deixa, e a toma,
E nada tem sentido - nem a alma
Com que penso sozinho.

26-04-1298, Odes de Ricardo Reis

quinta-feira, junho 19, 2008

Divagações tem mesmo que ser curtas.


Hoje, meditei o dia todo com xícaras de campim-cidreira, boldo do chile, twinings four red fruits (uma das maravilhas da vida). E, de repente assim, veio a vontade de sentir aquele turbilhão de emoções. E, assim, como quem pisca o olho, a vida ficou mais leve. Um instante assim como esse instante, salva um dia, uma semana! E agora posso juntar àquela constatação maravilhosa: merecidas férias!

terça-feira, junho 17, 2008

Trabalhinho de Música: Análise de Ai que saudade da Amélia! baseada nas Mitologias de Roland Barthes


Ai que saudade da Amélia!
Nunca vi fazer tanta exigência

Nem fazer o que você me faz

Você não sabe o que é consciência

Nem vê que eu sou um pobre rapaz

Você só pensa em luxo e riqueza

Tudo que você vê você quer

Ai, meu Deus, que saudade da Amélia

Aquilo sim é que era mulher

Às vezes passava fome ao meu lado

E achava bonito não ter o que comer

E quando me via contrariado

Dizia: Meu filho, que se há de fazer

Amélia não tinha a menor vaidade

Amélia é que era mulher de verdade

Amélia não tinha a menor vaidade

Amélia é que era mulher de verdade

Letra de Mário Lago, música de Ataulfo Alves, Gravada pela primeira vez por Ataulfo e suas
Pastoras, em 27 de novembro de 1941

“Exijo a possibilidade de viver plenamente
a contradição de minha época, que pode fazer
de um sarcasmo a condição da verdade.”
Roland Barthes

Seguindo a lógica da canção, poderíamos realizar aqui uma análise baseada nas questões de gênero. Contudo, realizarei uma análise baseada nas questões colocadas por Roland Barthes no livro Mitologias em que ele constrói um novo tipo de análise semiológica. A análise, como coloca Barthes, terá um tom artificial, ascético. Após essas duas considerações, continuemos.
Temos aqui o já construído mito de Amélia, a mulher de verdade. Desde 1941 essa música é tocada no Brasil, ora com tom irônico, ora reiterando valores machistas. Ao que parece, ela foi escrita com esse propósito. Em 1941 iniciava-se movimentos de libertação feminina que culminaram nos grandes movimentos dos anos 60.
A canção fala de um homem que já havia sido casado com uma mulher chamada Amélia, mas que por algum motivo (provavelmente falecimento, já que na época não havia divórcio, e Amélia era perfeita demais para ser deixada) vem a se casar com uma outra mulher. Dessa vez, ela faz “exigências”, não sabe o que é “consciência” (e provavelmente fala muito sobre isso), só “pensa em luxo e riqueza” e não enxerga que seu marido é um “pobre rapaz”. Amélia, contudo, passava fome ao lado dele, sem reclamar, ela achava “até bonito não ter o que comer”. Amélia era resignada, não possuía nenhuma vaidade, e por isso, para o narrador, era uma “mulher de verdade”. Como fazemos aqui uma análise semiológica, onde um signo é um sistema binário formado por significante e significado, é de se esperar que a “outra” é uma mulher falsa, mentirosa.
Amélia é um mito na sociedade brasileira. Até hoje, quando quer se falar de uma mulher forte, que cuida do lar, dos filhos, refere-se à ela como “uma Amélia”. Outra possível significação do termo “uma Amélia” (daí já mais posterior, após o movimento de libertação feminina) é “uma ingênua”, “uma boba”, uma mulher fácil de ser passada para trás.
Aqui, o sentido é a história do Marido de Amélia, que afirma que ela passava fome ao seu lado sem reclamar e que não possuía vaidades. Esse sentido apresenta a forma que é “Amélia que era mulher de verdade”. O fato de ser o ex-Marido de Amélia que conta essa história distancia-nos da “verdadeira” história dessa mulher. Teria Amélia sofrido em silêncio? Teria Amélia morrido, ido embora? O mito de Amélia é o de uma mulher que realmente não tem emoção nenhuma e isso é devido ao fato de sua história ser contada por um ex-marido (talvez arrependido?). Talvez o Marido de Amélia só a valorize agora, com a presença da segunda esposa. O único momento em que é dada voz ao mito Amélia é o verso “Dizia: Meu filho, que se há de fazer”, em que Amélia possui um tom de resignação, até maternal, provavelmente provindo de sofrimento, fome e tristeza, e não, como afirma o ex-marido, de sua mínima vaidade ou do fato de que ela achava bonito passar fome. Alguém pode afirmar que ou Amélia sofria em silêncio ou estava resignada.
Contudo, não é o caso analisarmos a possível vida do personagem Amélia, e sim a forma e sentido com que seu mito nos é apresentado e a significação que ele denota. Muitas vezes Amélia foi cantada apenas como um “samba bonito”, o que o torna uma canção literal, livre de interpretações e oculta a intenção do mito. Na pretensão de tomar o lugar do mitólogo, deve-se isolar a forma ou o sentido a fim de procurar a significação. Ela não acompanha o signo que é completamente arbitrário, a significação, para Roland Barthes, nunca é totalmente arbitrária, em parte ela é sempre motivada e contém uma parte da analogia.
O mito de Amélia, portanto, designa o mito da “mulher ideal” para um marido brasileiro e pobre. Uma mulher que não reclama, não sonha e não possui vaidade. O único propósito do mito Amélia é cuidar da casa e afagar seu marido com palavras dóceis quando ele se vê contrariado. Há na música o que Amélia não deve fazer explícito em outro mito: o da contra-Amélia. Amélia não pode exigir nada, não pode ter (e nem saber) o que é consciência e não deve pensar em luxos e riquezas. Contra-Amélia não é considerada pelo Marido um exemplo digno de mulher. Somente Amélia “é que era mulher”.
O Marido de “Ai que saudade da Amélia”, é um “pobre rapaz” mas ele não é nem proletário nem burguês. Contudo, o ideal de vida do casamento, da esposa em casa a espera do marido, é um ideal burguês. O marido, então, é o Homem Eterno, habitante do universo dos fatos burgueses. Porque, segundo Barthes, é quando penetra nas classes intermediárias que os ideais burgueses (tal qual o mito de Amélia) se tornam verdades diluídas no imaginário.

“Essa aliança vai se reforçando com o tempo e se transformando pouco a pouco em simbiose. Tomadas de consciência provisórias podem acontecer, mas a ideologia comum já não é posta em questão: uma mesma camada “natural” cobre todas as representações “nacionais”: o grande casamento burguês, fruto de um rito de classe (a apresentação e o consumo das riquezas) , não pode ter nenhuma relação com o estatuto econômico dos pequeno-burgueses , mas, por meio da imprensa, das atualidades e da Literatura, transformou-se, pouco a pouco, na norma, se não vivida, pelo menos sonhada do casal pequeno-burguês. A burguesia absorve ininterruptamente na sua ideologia toda uma humanidade que não possui um estatuto profundo e o que só pode vivê-lo no imaginário, isto é, no empobrecimento da consciência. Expandindo as suas representações graças a todo um catálogo de imagens coletivas para o uso Pequeno-burguês, a burguesia consagra a indiferenciação ilusória das classes sociais (...)” (Barthes, 1970)

Aí, então, encontro um terceiro mito na canção: a mulher pequeno-burguesa. Colocada nas devidas proporções do caso brasileiro (que difere muito do francês) A contra-Amélia quer ter um padrão de vida burguês e seu marido não pode oferecê-lo. A visão de mundo dela é exigente e, segundo o Marido – é bom lembrar que os mitos da canção são construídos segundo a visão dele - , ela deseja “luxo e riqueza”. Aí está o paradoxo da indiferenciação das classes sociais: Contra-Amélia quer ser burguesa mas não pode; Marido quer um casamento burguês mas não quer uma mulher burguesa. Ele quer a figura mítica da “mulher do proletário”, que nada quer, nada pede, nada exige.
Para concluir, Amélia é um caso de mito deslocado. Quando foi escrita, representava um ideal. Atualmente, representa outro. O mito continua tendo força, porém, outra força. O mito, antes reduzido ao ideal vigente, hoje está circunscrito a um contra-ideal: a mulher não deve ser Amélia se não quiser ser considerada ingênua. Tampouco, deve ser Contra-Amélia. O novo mito da “mulher ideal”, apresentado nas revistas como Cláudia, é o mito da mulher “independente sem deixar de ser mulher”. Mas esse não é um mito a ser discutido nesse trabalho.
Resumindo: o significante do mito “Amélia” é que ela"era uma mulher de verdade”. O significado, que Amélia (que não reclama e não tem vaidade) era o Ideal de mulher para o homem em 1941. Entrando no campo da significação; o “produtor de mitos” de Barthes vê (focaliza, para usar o termo do autor) Amélia como o símbolo da “mulher de verdade”. Para o “mitólogo” de Barthes, Amélia é o álibi
do Marido para considerá-la “mulher de verdade”. Já para o “leitor do mito”, Amélia é a própria presença da “mulher de verdade”. Para o autor, a primeira focalização é cínica, a segunda desmistificadora e a terceira é dinâmica, ela faz com que o leitor viva o mito como uma história simultaneamente verdadeira e irreal.
Barthes afirma que o que faz com que o leitor consuma o mito inocentemente é o fato de não enxergá-lo como um sistema semiológico: um signo formado por significante e significado (no caso de Barthes, substituir signo por significação). Para o leitor, é um sistema indutivo: há apenas uma equivalência, é uma relação natural. Nas palavras de Barthes: “(...) O sistema semiológico é um sistema de valores; ora, o consumidor do mito considera a significação como um sistema de fatos: o mito é lido como um sistema fatual, quando é apenas um sistema semiológico.”

Referência Bibliográfica
BARTHES, Roland. Mitologias. Rio de Janeiro, Difel, 2007.

sábado, junho 14, 2008

I (really) can watch the sunset on my own or a bunch of idiomatic expressions


Short Story:

I fell for you and then I fell in love, and then I fell apart, and then I fell back on you, and then we fell out, and now I try to fall back, and I think I fell for myself again.
So much to do. So much to think. So much to feel.
And now, in instead of falling, I jump.

sexta-feira, junho 13, 2008

The Horror... The Horror


"And suddenly he'll grab you, and he'll throw you in a corner, and he'll say, 'do you know that 'if' is the middle word in 'life'?'"
Photojournalist sobre Kurtz em Apocalypse Now. Amo.

Ps - Olha isso aqui, que divertido! =) Eles me ligaram!

quinta-feira, junho 12, 2008

Cecil Beaton & Elliott Smith



got bitten fingernails and a head full of the past
and everybody's gone at last
a sweet sweet smile that's fading fast
'cause everybody's gone at last

and you don't get upset about it
no not anymore
there's nothing wrong
that wasn't wrong before

had a second alone with a chance let pass
and everybody's gone at last

well I hope you're not waiting
waiting around for me
because I'm not going anywhere, obviously

got a broken heart and your name on my cast
and everybody's gone at last
everybody's gone at last

segunda-feira, junho 09, 2008

Palavras desconexas

ela filosofa de faz-de-conta, ouvindo o mestre repleto de verdades. ela está tímida, mas não pensa em ninguém. pensa em atitudes que não tomaria, só o pensar é suficientemente ousado. na boca, um sorriso há tempos guardado.

E formula, logicamente:

ruim é “pisar em ovos”; é presumir o sentimento alheio; é sentir aquele doer por mais uma vez; é olhar pra trás e ver pouca coisa feita.

bom é chão concreto; é silêncio pra escutar o que se passa dentro de mim, chama-se paz de espírito; é sentir aquele redemoinho de anseios novamente; ; é olhar pra frente e ver muita coisa
por fazer.

domingo, junho 08, 2008

Poema de Marcelo Sandmann


1.
Ela agora só pode amar
Com a paixão contida
Da borboleta espetada na placa de isopor

(De vez em quando uma asa estala
e sai voando pela sala
e quer quebrar o abajur)

quinta-feira, junho 05, 2008

Minhas Mitologias

Um dia minha avó decidiu me ensinar a gritar. Não que eu fosse criança quieta, tagarela eu sempre fui. E também não deixava de ser manhosa. Só não sabia gritar. Grito daquele ancestral, daquele primal, que vem do âmago, que alivia a pressão do mundo. Ela tentou, tentou, com lições teóricas, práticas, demonstrações. Não adiantou. Até hoje eu não sei gritar de verdade. Mas às vezes me dá aquela vontade de dar um grito aos quatro cantos, de reverberar o pulmão pelo mundo, de me fazer entender, de deixar claro o que quero, o que não quero, pra que vim ao mundo. Daí eu escrevo. A palavra é meu grito.

*

E agora eu quero gritar por muitas coisas. Eu quero gritar por aquilo que acho que mereço, que preciso, que quero. Três daqueles verbos que não uso com a freqüência que deveria. Apenas por precaução. Mas qual é o sentido de todo esse cuidado? Por quê?