sábado, maio 31, 2008

Sem título

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Isso não é um jogo de azar. Mas não há ganhadores. Nem vantagens, e muito menos regras. Há sim reincidência, ilusões e probabilidades. Vício, quem sabe. Há ainda melancolia e solidão, recrudescentes a cada jogada. E, chega de blefar! É preciso admitir. E é preciso distrair-se com banalidades. Deixar de acreditar que pensa aquilo que esperam. Você só joga quando quiser e como quiser. Há contradições por demais, jogadas arriscadas. E há outras que impedem a visualização do quadro todo, daquilo no que se acredita verdadeiramente. E às vezes o melhor é dar as cartas. ‘Noutras, é melhor desistir. Até porque você não é uma pessoa competitiva.

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Sou míope - não enxergo longe sem meus óculos. Vejo apenas aquilo que está muito próximo. Longe de mim, tudo indefinido. Não há nitidez. Tenho consciência de que lá está, eu identifico as cores, um formato aproximado, a distância da minha imaginação, da minha certeza, da minha crença. Mas eu não defino formatos, nuances, particularidades, possibilidades, certezas. E forçar a vista me dá uma dor de cabeça sem fim. Ainda bem que, antes de ser míope, sou uma sonhadora nata, daquelas que devaneiam na luz do dia.

terça-feira, maio 27, 2008

Todas as cartas de amor são ridículas ou Alguns termos incompreensíveis


Silêncio. Sim. Não. Charada. Risco. Medo. Dor. Paixão. Permissão. Ousadia. Espontaneidade. Pensamento. Desejo. Mundo. Amor. Alegria. Risco. Riso. Probabilidade. Convenção. Vontade. Verdade. Coincidência. Relâmpago. Descuido. Brecha. Destruição. Vida. Tempo. Sinceridade. Honestidade. Querer. Concessão. Reciprocidade. Prisão. Bondade. Amizade. Boca. Beijo. Palavras. Loucura. Sabotagem. Cômico. Condescendência. Racionalidade. Tudo. Nada.

sábado, maio 24, 2008

And it's alright, Ma, I can make it e escritos d’O Poeta

“(…) Advertising signs that con you/ Into thinking you're the one/ That can do what's never been done/ That can win what's never been won/ Meantime life outside goes on/ All around you.You lose yourself, you reappear/ You suddenly find you got nothing to fear/ Alone you stand with nobody near/ When a trembling distant voice, unclear/ Startles your sleeping ears to hear/ That somebody thinks/ They really found youA question in your nerves is lit/ Yet you know there is no answer fit to satisfy/ Insure you not to quit/ To keep it in your mind and not forget/ That it is not he or she or them or it/ That you belong to. (…)”

Bob Dylan em It's All Right, Ma (I'm only Bleeding)

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“Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
É um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...

Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesmo coisa variada em cópias iguais.

Não. Cansaço, por quê?
É uma sensação abstracta
Da vida concreta –
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como...
Sim, ou por sofrer como...
Isso mesmo, como...
Como quê?...
Se soubesse não haveria em mim este falso cansaço.

(Ai cegos que cantam na rua,
Que formidável realejo
Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!)

Porque oiço, vejo.
Confesso: é cansaso!... ”

Álvaro de Campos

quinta-feira, maio 22, 2008

“Porque foi calma a tempestade”

Para ler ouvindo A Tempestade.

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L’Avventura não consegue entender Longe do Meu Lado

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Sei que devo recomeçar. Entretanto, não há fim. Que fênix renasce sem cinzas? Recomeçar, não. Apenas continuar: uma vida repleta de possibilidades, de pontos de encontro e desencontro, de coincidências, de oportunidades. Porque estamos sozinhos no mundo. E a solidão não é relativa, ela é intrínseca.

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Dizem que o que os olhos não vêem o coração não sente. Na esperança de não sentir, fecho os olhos. Realmente, é simples não sentir. Queria sentir algo, confesso. Quando abro os olhos, o mundo está lá, estático. E, então, um turbilhão de emoções e confusões me toma e me leva novamente a esse terreno incerto, incógnito. Sinto que por ele quero caminhar, mas algo me impede.
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E na tentativa de descobrir um atalho, fecho novamente os olhos. Encontro lábios hesitantes, meu corpo vacila, oscila. O que fazer? Não há tempo para refletir, corpo inculto! Deve haver nesse momento, em algum recôndito, uma dor lancinante, dessas que cortam o coração. Mas ela está reduzida, oculta, abafada por emoções desconhecidas, ruídos mil, e vozes diferentes, etéreas. De súbito, um silêncio chamado desejo as cala.

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Na aurora, reinicio. E me pergunto, como fez um poeta, se espero voar, como chego às nuvens com meus pés no chão?

terça-feira, maio 06, 2008

"Cinema - uma força que suaviza a realidade"

Jean-Claude Carrière escreveu um livro muito legal chamado A linguagem secreta do cinema. Eu li metade dele na aula de História e Cinema, e pretendo ler o restante: só é uma pena que ele esteja esgostado. Carrière trabalho com Luis Buñuel por 19 anos, escrevendo roteiros, incluido A Bela da Tarde. Depois ele fez um monte de outros filmes muito bons, incluindo um dos meus preferidos de todos os tempos, A Insustentável Leveza do Ser, que ganhou Oscar de melhor roteiro adaptado em 1989 (eu acho).

Há um momento em que Carrière lista os truques que o cinema utiliza para burlar os obstáculos da realidade, que podem atrasar, ou tornar um filme tedioso (e o tédio, segundo ele, é o fim de um filme):

- Num filme, o táxi está sempre desocupado no instante em que precisamos dele e o personagem sempre paga o preço exato sem olhar no taxímetro ou precisar de troco.
- Ao telefone, sempre disca-se seis números (para economizar tempo), a pessoa chamada sempre atende ao primeiro toque e o personagem sempre repete as palavras do interlocutor (Como vai? Melhor? E a sua esposa? Abandonou você?)
- O sexo no cinema é sempre de fácil execução, e os parceiros chegam ao êxtase juntos e rapidamente (melhor frase do livro: "Assim, os filmes de hoje são um monte de ejaculações precoces")
- Em brigas de rua, a pessoa cai desmaiada com único soco.
- Se a história não exige a presença de crianças, um casal vive anos juntos sem qualquer menção à procriação (e isso muito antes da pílula!)
- "Qualquer atividade é familiar e corriqueira". Qualquer personagem sabe ler, nadar, dançar, cavalgar e fala muitos idiomas.
- Os personagens sempre conseguem quartos livres em hotéis.
- Os carros sempre pegam na primeira tentativa
- A cavalaria (quase) sempre chega bem na hora
- "Você se barbeia sem se cortar e fuma sem ficar enjoada. Urina muito raramente - sem fala da outra coisa, que você jamais faz"
- As mulheres acordam lindas.
- Os viajantes puxam malas com a maior facilidade (Eu aprendi subindo dois lances de escada com uma mala de 20kg em NYC que isso é mto falso)
- Quando alguém anota algo, faz isso com maravilhosa velocidade, tão rápido quanto o ditante fala.
- "E quando uma jovem com aparência bem intelectual é tocada pelo sopro do amor, ocorre um verdadeiro milagre ótico - ela repentinamente deixa de usar óculos, sem qualquer efeito aparente sobre a sua habilidade de ler e escrever"
- As balas das armas dos filmes Westerns são infinitas
- Quando um homem comete um crime, chega ao esconderijo, ele liga a TV ou o rádio, e "invariavelmente, naquele exato momento, o locutor está falando do seu crime e da sua escapada".

domingo, maio 04, 2008

Ouçam a canção "Braille" e chorem litros e galöes

Thanks, Regina. You made me, and you still make me, Begin to Hope. :)